Thiago Barbosa
Há uma máxima por demais conhecida entre os cordelistas: "existe cordel sobre qualquer assunto, se não existir, a gente escreve agora"! Quem não tem muita intimidade com a literatura de cordel pode até pensar que nela só se fala de Lampião ou do cotidiano dos sertanejos, ledo engano. A variedade e sobretudo a atualidade de temas explorados pelos poetas populares é um manancial inesgotável.

Aids, células tronco, lei seca, mensalão, crise econômica mundial, gripe suína, eleição de Barack Obama e tantos outros assuntos demasiadamente retratados na imprensa já ganharam estrofes nos folhetos. Em pouco mais de uma semana após a tragédia com um avião da TAM em 2007 no aeroporto de Congonhas, já haviam sido catalogados na internet cinco folhetos abordando o acidente, com detalhes técnicos sobre as possíveis causas. A morte da menina Isabela também virou cordel nas precisas septilhas do poeta piauiense Orlando Paiva.

A literatura de cordel foi durante muito tempo o jornal do sertanejo. No tempo em que não exististia televisão e que o rádio e os jornais ainda eram pouco acessíveis ao grande público, os homens do campo recebiam as notícias através do cordel. O exímio xilogravurista pernambucano J. Borges ficou sabendo da morte do presidente Getúlio Vargas pelos folhetos. O fim da 2ª Guerra Mundial também chegou a muita gente pelos cordelistas.

Apesar da velocidade da informação nos dias de hoje por intermédio da mídia eletrônica, a literatura de cordel não ficou para trás, corroborando a idéia de que ainda é mais atual do que nunca. Nem bem Michael Jackson foi sepultado e já existe cordel editado e publicado sobre ele. 'A Chegada de Michael Jackson no Portão Celestial' é de autoria de dois grandes cordelistas da atualidade, o João Gomes de Sá e o Klévisson Viana. O lançamento da editora Tupynanquim conta de forma anedótica a passagem do rei do pop para o 'andar de cima'. Os autores retratam no folheto um astro aliviado, que se livrou de uma vida atribulada, recheada de compromissos, dívidas e escândalos e que finalmente encontrou a paz. Eis algumas estrofes:

Poeta tem sinal verde
Pra voar com liberdade
Andar no tempo, sonhar,
Falar da realidade,
Fazer o leitor sorrir,
Contar 'causo' divertir
Chorar ou sentir saudade.

De sábado para domingo
Eu fui dormir sossegado:
Sonhei que estava voando
Em um maquinismo alado
Tudo que vi, registrei
E ao despertar, encontrei
Pena e papel do meu lado.

Eu sonhei que o rei do pop,
Logo após bater as botas,
Foi direto para o céu,
Fazendo muitas marmotas,
Cantando muito agitado
Feliz tinha se livrado
De dívida, banco e agiotas.

(...)

Michael Jackson lá no céu
Chegou bastante apressado
Dizendo para São Pedro:
-Estou demais atrasado
Eu quero até me esconder
Porque não pude fazer
O que tinha programado!

Tinha uma agenda de shows
Com lotação esgotada,
Para pagar uma dívida
Há muito tempo atrasada
Mas eu confesso, não sei,
Por que logo me livrei
Daquela vida agitada!

(...)
7 Responses
  1. É mentira. A primeira coisa que o Michael Jackson disse ao chegar ao céu foi: "cadê o menino jesus?""
    Abraço!


  2. Anónimo Says:

    Nada melhor que apreciar uma história contada em cordel...
    Sugestão de sua leitora assídua espero que você post no blog seus cordeis!!!
    Bjoo amor!
    Fabi


  3. concordo com o que disse o anónimo! kkkkkkkkkkkk
    É isso Fabi!
    E o Álvaro mais uma vez está certo!


  4. Débora Says:

    robert a senhora sua madrinha

    ¬¬


  5. Anónimo Says:

    Não tem nada que expresse mais a cultura nordestina que um cordel. Só acho que as pessoas deveriam (como sempre!) valorizar mais, inclusive adquirindo. São muito baratos: lá no mercado variam de R$ 1 a R$ 3 e ainda há gente que nunca leu um. Uma pena.

    Valeu pelo comentário, Thiago!
    Abraço.


  6. Esses autores são mesmo bacanas... Mas você escreveu sobre Michael também? Mostre aí...


  7. Bicho, muito bom mesmo! Parabéns por esse post extremamente inteligente.

    Abração, meu caro morféticu!